domingo, 4 de janeiro de 2009

A MÚSICA ROCK A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA - Dr. Samuelle Bacchiocchi - Prof. da Andrews University.

Capítulo 3
A MÚSICA ROCK
A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA
HISTÓRICA - Dr. Samuelle Bacchiocchi - Prof. da Andrews University.
por:
Samuelle Bacchiocchi


No best-seller The Closing of the American Mind, o professor da Universidade de Chicago Allan Bloom examina alguns dos fatores, os quais, em anos recentes, tiveram um impacto negativo no desenvolvimento intelectual, cultural, e moral dos jovens americanos. O livro permaneceu na lista dos mais vendidos do New York Times por mais de seis meses, vendendo mais de um milhão de exemplares. É evidente que muitas pessoas apreciaram a análise perspicaz que Bloom provê e que ele chama de “o fechamento da mente americana.”
No capítulo intitulado “Música”, Bloom descreve a música rock como “alimento impróprio para a alma”, que libera as “paixões mais baixas” e contra a qual não há “nenhuma resistência intelectual”. 1 Também poderíamos acrescentar que não há nenhuma resistência significativa contra a música rock por parte de muitas igrejas cristãs, que adotaram uma versão purificada de tal música para o seu culto de adoração e campanhas evangelísticas.
Bloom baseia sua conclusão na observação de seus alunos durante os últimos trinta anos. Ele observa que na geração anterior, quando seus alunos eram criados ouvindo música clássica, eles tinham um maior interesse pela aprendizagem mais elevada sobre a verdade, justiça, beleza, amizade, etc. Por contraste, os estudantes desta geração, que foram educados ouvindo música rock, mostram menos interesse pela aprendizagem mais elevada, estando mais interessados nos negócios e nos prazeres imediatos. 2
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A música clássica, de acordo com Bloom, é essencialmente harmônica, enquanto que a música rock é rítmica. Música harmônica apela mais à mente e faz seus ouvintes serem mais contemplativos. A música rítmica apela mais às emoções e faz seus ouvintes serem mais passionais. O efeito sobre o cérebro de uma exposição prolongada à amplificação elétrica de música rítmica é “semelhante ao efeito das drogas” 3. A tese de Bloom é apoiada por estudos científicos citados pela Dra. Juanita McElwain uma musicoterapeuta, que contribuiu com um artigo no (capítulo 5) deste simpósio. Um estudo relatado pelo Scripps Howard News Service estabelece que “expor-se à música rock causa anormalidade nas estruturas neuronais na região do cérebro associada a aprendizagem e a memória”. 4
Bloom disse em uma entrevista que concorda com Platão de que “a música expressa as forças caóticas escuras da alma e o tipo de música no qual as pessoas são criadas determina o equilíbrio de suas almas. A influência da música rock sobre as crianças de hoje reafirma um papel central da música que havia caído em desuso durante quase cem anos. Uma vez que reconheçamos esta nova centralidade, contudo, teremos que discutir que paixões são despertadas, como são expressas, e que papel esta atividade ocupa na vida da sociedade”. 5
Em anos recentes houve uma discussão considerável do impacto revolucionário da música rock no comportamento mental, moral, espiritual, e social das pessoas. Porém ainda há perguntas significativas que permanecem sem resposta.
O que há na música rock que atrai tantas pessoas no mundo inteiro e que fez dela um tal fenômeno social revolucionário? Por que é que o Jazz ou o Blues, por exemplo, não exerceram o mesmo impacto revolucionário na sociedade? A música rock é só um estilo musical como muitos outros, ou encarna certas crenças “religiosas”, poderes hipnóticos, e sistemas de valores que são countraculturais e anti-cristãos?
Objetivo deste Capítulo. Este capítulo busca responder às perguntas anteriores, olhando bem de perto a evolução histórica e ideológica da música rock. O propósito desta pesquisa não é meramente informar o leitor sobre a história da música rock. Tal informação está facilmente disponível em estudos bem mais abrangentes. Ao invés disso, nossa preocupação é ajudar o leitor a entender a real natureza da música rock, traçando sua evolução ideológica e enfocando os valores que emergiram durante o curso de sua história. Esta análise continua no capítulo seguinte que examinará mais de perto a natureza da música rock.
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Este estudo mostrará que a música rock passou por um processo de endurecimento facilmente discernível. O que começou na década de 1950, como rock simples, tornou-se, gradualmente, num rock suave, folk rock, soul rock, funk rock, rock psicodélico, discoteca, hard rock, heavy metal rock, punk rock, thrash metal rock, rave rock e o rap rock. Novos tipos de música rock estão aparecendo, constantemente, enquanto que os velhos estilos ainda são aclamados.
Uma suposição popular de que estes vários estilos de música rock são apenas um outro gênero musical que as pessoas podem gostar ou não gostar, dependendo de suas preferências musicais ou culturais. Assim, não haveria nada de imoral com a música rock por si. É apenas seu uso impróprio que está moralmente errado. Mudando suas letras, os cristãos poderiam usar a música rock para adorar a Deus, legitimamente, e proclamar o Evangelho.
Este estudo é planejado para ajudar os leitores a entenderem os enganos desta suposição popular que é baseada numa concepção completamente errada da natureza intrínseca da música rock. Infelizmente a maioria das pessoas não percebe que há mais na música rock do que seus olhos possam ver. Eles ignoram que o rock não é um gênero musical genérico, mas uma música de rebelião. É um movimento revolucionário “religioso” contracultural e anti-cristão, que usa seu ritmo, melodias, e letras para promover, entre outras coisas, uma cosmovisão panteísta/hedonista, uma rejeição aberta à fé e valores cristãos, perversão sexual, desobediência civil, violência, satanismo, ocultismo, homossexualidade e masoquismo.
As características da música rock citadas acima ficarão evidentes quando traçarmos seu desenvolvimento histórico e as características ideológicas neste e nos capítulos seguintes. Os resultados deste estudo nos dão razão para concluir que a música rock não é um estilo musical neutro (amoral), mas uma música de rebelião que desafia Deus, rejeita a moralidade vigente, e promove todos os tipos de comportamentos pervertidos. Nenhuma outra música apareceu durante os últimos vinte séculos que rejeitasse tão deliberadamente todos os valores morais e as crenças que o cristianismo representa.
Como esta conclusão fica cada vez mais evidente durante o curso de nossa pesquisa histórica da música rock, colocaremos esta intrigante questão em pontos cruciais de nossa investigação sobre as suas características durante os anos sessenta, setenta, oitenta, e nossos dias: A música rock pode ser legitimamente adotada e transformada em um meio adequado para adorar a Deus e proclamar o Evangelho? Ao respondermos a esta pergunta, é importante nos lembrarmos que o meio afeta a mensagem. A resposta a esta pergunta se torna evidente por si mesma durante o curso desta investigação, conforme revelarmos os valores éticos e religiosos promovidos pelo rock.
Por uma questão de clareza o capítulo é dividido em quatro partes. A primeira parte traça as raízes da música rock até a música rítmica africana,
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que foi adotada em suas várias formas pelo Negro Spirituals, o Rhythm and Blues, e depois pela música rock and roll. Será dada consideração especial ao papel de Elvis Presley na promoção da música rock e de seus valores.
A segunda parte considera o desenvolvimento da música rock durante os anos sessenta, enfocando, especialmente, a influência dos Beattles. Estes “quatro fantásticos” jovens ingleses, como veremos, desempenharam um papel importante promovendo através de sua música rock o uso das drogas e a rejeição ao Cristianismo.
A terceira parte observa a música durante os anos setenta. Durante esta década vários fatores contribuíram para o aumento de tipos supersticiosos e satânicos da música rock, os quais promoviam várias formas de adoração satânica e atividades ocultas. Este aspecto alarmante da música rock é obviamente ignorado por aqueles que não vêem nada de errado na natureza intrínseca da música rock.
A última parte enfoca o processo de endurecimento da música rock, que aconteceu a partir dos anos 1980. Durante este período apareceram novos tipos de música rock, os quais sobrepujaram as anteriores na intensidade das batidas altas, vulgaridade e profanação. As informações recolhidas por esta pesquisa histórica servirão de base para analisarmos a intrigante questão de se a música rock pode ou não ser legitimamente adotada e transformada num meio adequado para adorar a Deus e proclamar o Evangelho.
PARTE 1
O INÍCIO DA MÚSICA ROCK
No capítulo 2 observamos que a música rock retirou sua inspiração de seu lar original na África, onde a adoração religiosa é, freqüentemente, uma celebração corporal do sobrenatural através da música rítmica. Como Michael Ventura destaca, “O alvo metafísico do modo africano é experimentar a intensa reunião do mundo humano e do mundo espiritual. Estimulada pelos tambores sacros, aprofundando-se na meditação da dança, uma pessoa é, literalmente, possuída por um deus ou uma deusa. Deusas podem se apossar dos homens, e os deuses podem se apossar das mulheres. O corpo torna-se, literalmente, uma intersecção, o humano e o divino são unidos nele – e isto pode acontecer com qualquer um.”
“Em Abomey, África, estas deidades que falam através de humanos são chamadas vodun. A palavra significa ‘mistérios.’ Do seu vodun vem nosso vodu, e é no vodu que temos que procurar as raízes de nossa música... Vodu não é tanto a África no Novo Mundo quanto é a África conhecendo o Novo Mundo, absorvendo-o e sendo absorvida por ele, e reformando a metafísica antiga de acordo com que tem que enfrentar agora”. 6
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A aceitação popular da música rítmica africana tem sido facilitada pela convergência em nosso tempo entre a concepção imanente de “Deus em nós”, prevalecente entre os evangélicos, e a visão de Deus humanista/panteísta dominante em nossa sociedade. Observamos no capítulo 2 que, como ambos os grupos estão buscando satisfazer seu desejo íntimo por uma experiência aprazível do sobrenatural, a música rítmica africana provê um meio atrativo para se aproximar do infinito através de seu ritmo hipnótico.
Uma característica ímpar da música africana encontra-se em seus ritmos, que para os africanos são o tempero da vida. O musicólogo inglês A. M. Jones explica que “Ele [o africano] é intoxicado por esta harmonia rítmica ou polifonia rítmica, da mesma maneira que reagimos à harmonia dos acordes. É esta notável interação das batidas principais que o leva irresistivelmente, quando ouve os tambores, a começar a movimentar seus pés, seus braços, todo o seu corpo. Para ele isto é música verdadeira”. 7 A batida é realmente, a característica distintiva da música rock. Veremos que seu ritmo inconfundível, que influencia diretamente o corpo, distingue a música rock de todas as outras formas de música.
Uma suposição popular é de que o ritmo musical do Vodu africano está associado com a adoração ao Diabo. Isto não é necessariamente verdade. A cultura africana vê os seres sobrenaturais como sendo, inerentemente, nem bons nem maus, mas capazes de agirem de uma maneira ou de outra, dependendo das habilidades dos músicos, que praticam suas artes para o bem ou para o mal. A presença do oculto, do satanismo em alguns tipos de música rock, discutidos posteriormente neste capítulo, não representa a intenção original da batida do Vodu, que era comunicar-se com o sobrenatural, seja bom ou mal.
Negro Spirituals. As raízes da música rock são encontradas, geralmente, nos Negro Spirituals que se desenvolveram no interior do Sul dos Estados Unidos. Estas canções simples merecem nosso respeito porque elas expressam os sofrimentos e opressões do negro americano. Embora a música seja rítmica, os Spirituals sempre continham uma mensagem de esperança a ser encontrada na libertação de Deus para o Seu povo. O sofredor encontra a solução e a esperança final em Deus, que trocará suas roupas sujas por uma vestidura branca e os resgatará da morte numa carruagem de fogo. A teologia dos Spirituals pode nem sempre ser exata, mas a fé e confiança em Deus são inquestionáveis.
Com o tempo, houve negros que rejeitaram a mensagem de esperança dos Negro Spirituals, desenvolvendo uma outra forma musical para expressar seu
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sofrimento e desespero. Sua música, que é conhecida como “Rhythm and Blues”, tornou-se a expressão dos negros que rejeitaram qualquer solução divina para o seu infortúnio. O estado de espírito do Blues é a tristeza e o desespero, marcada por uma batida pesada, regular.
Hubert Spence observa: “O sentimento do ‘blues’ (N.T. – A palavra inglesa “blues” é sinônimo de tristeza, melancolia, depressão) era fortemente evidente, mas havia uma clara rejeição a qualquer solução fora do homem. Sua mensagem descrevia o homem ou se afogando em seu sofrimento, ou tirando sua vida por causa do sofrimento, ou participando de algum ato prazeroso (como a fornicação); através dessas ações o ‘blues’ era aliviado. E nos anos trinta, nos campos e choupanas da região do delta, ocorreu a mutação deste estilo musical mundano, intensamente vigoroso. Era tocado pelos negros para os negros (naquela época eram chamados de Pretos). Curtida na miséria, era uma música solitária, de alma triste, cheia de prantos e pontuadas por uma batida regular pesada”. 8
O Nascimento da Música Rock. Depois da Segunda Guerra Mundial, a batida do Blues foi intensificada pelas guitarras elétricas, baixos, e baterias. As primeiras gravações foram feitas por Chuck Berry, Bo Diddley, e John Lee Hooker. Estes discos “raciais”, como ficaram conhecidos na indústria fonográfica, foram tocados em 1952 pelo disc jockey Alan Freed, em seu programa de rádio de fim de tarde chamado Moondog Matinee, em Cleveland. Tomando emprestado uma frase que ocorria em várias canções de Rhythm-and-Blues, Freed chamou o estilo de “rock and roll.” Esta frase era usada no gueto como um eufemismo para as relações sexuais promíscuas que aconteciam no assento traseiro dos carros. Nesta perspectiva, como é o som do “rock cristão”?
Freed foi para a cidade de Nova Iorque tocar suas melodias na WABC, uma das maiores estações de rádio daquela época. A batida acentuada começou a contagiar a juventude americana. A popularidade de Freed não deveria durar muito. Em 1959 um escândalo de suborno levou Freed a renunciar. Ele tinha recebido propinas dos cantores de rock e grupos que promovia. Ele morreu cinco anos depois com a idade de 42 anos, bêbado e sem dinheiro. O homem que deu nome ao rock and roll era a sua primeira vítima.
Os escândalos que sacudiram a música rock não diminuíram o interesse por ela. Cantores como Bill Haley, Chuck Berry, e Buddy Holly contribuíram para popularizar a música rock. Uma influencia especial foi causada por um filme intitulado Blackboard Jungle, que mostrava uma canção de Bill Haley e os Cometas chamada “Rock Around the Clock.”
A verdadeira revolução veio quando Elvis Presley, aos 19 anos, começou a cantar as canções “raciais” no estilo negro. Presley fez sua primeira
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gravação profissional para Sam Philipps no dia 6 de julho de 1954 - uma data que muitos reconhecem como o verdadeiro dia do nascimento da música rock – ou seja, quando a música rock começou a chamar a atenção nacional e internacional. Depois do seu primeiro sucesso “Heartbreak Hotel” Presley se estabeleceu como o “Rei do Rock and Roll.”
A música rock era semelhante, em muitos aspectos, ao que já era popular antes, uma vez que era marcada por guitarras, pianos, trompetes, e outros instrumentos. Ainda assim, como Hubert Spence explica, “o som era muito diferente: uma batida de bateria constante permeou a música, e a tornou muito própria para a dança. A inversão do pulso ou síncope, tornou-se a característica dominante em seu ritmo”. 9 Esta característica distintiva da música rock merece uma cuidadosa consideração, por causa de seu impacto único no aspecto físico do corpo. Examinaremos o ritmo da música rock no próximo capítulo.
A Influência de Elvis Presley. O impacto abrangente de Presley em moldar o movimento rock é declarado de forma concisa no Dicionary of American Pop/Rock: “Presley representou não apenas um novo som, mas um novo visual (costeletas e corte de cabelo ducktail), novo vestuário (calça de camurça azul), nova sensibilidade (a zombaria), novas tradições (uma aproximação mais sensual para o amor), nova linguagem (‘todo mundo agitando’), e novas danças. Sua aceitação histérica era a expressão de uma geração jovem em conflito com e em rebelião contra a geração mais velha”. 10
As técnicas de palco de Presley foram fortemente viscerais no movimento e atraíam de suas platéias não apenas bajulação, mas também uma resposta excitada. Cada garota queria Elvis como seu namorado e amante. O impacto anárquico de sua música logo ficou evidente no comportamento destrutivo e nas revoltas de seus fãs durante seus concertos de rock em Londres, São Paulo - Brasil, Atlanta, e San Jose - Califórnia.
“A geração mais velha acordou. Este cantor garanhão, bufante e resmungão, estava mudando o modo como os jovens olhavam a vida. De repente o triunvirato da escola, família, e igreja tinha perdido o significado. Tudo o que importava era olhar, agir, ouvir, e ser como Elvis. Pastores, pais, e editores de jornais notaram e começaram a pregar contra a rebeldia que Presley simbolizava. Algo tinha que ser feito.” 11
Infelizmente quase nada poderia ser feito, porque Elvis tinha colocado em marcha um movimento que nem a sua morte (causada pelo vício da droga) poderia parar. Ele morreu em agosto de 1977 com quatorze tipos de drogas diferentes pulsando em seu corpo. Sua morte se tornou para seus fãs em sua apoteose, quer dizer, a deificação do seu ídolo. Sua propriedade Graceland se transformou em uma indústria multimilionária e num santuário
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virtual para a peregrinação de muitos adoradores de Elvis. Esta importante dimensão “religiosa” da música rock será examinada no próximo capítulo.
Um aspecto paradoxal da carreira musical de Presley era sua obsessão pelo fetichismo religioso. Ele passava horas lendo a Bíblia em voz alta e forçava os visitantes a irem a uma casa convertida em igreja na sua propriedade de Graceland, para se sentarem e escutarem suas leituras. Ao longo de sua carreira Presley teve quartetos gospel fazendo o vocal de sua música. Nos anos da sua juventude Presley freqüentou uma igreja Batista negra em Memphis (East Trigg), Tennessee, onde estudou as respostas das pessoas à música rítmica. Presley impregnou-se com o estilo gospel de cantar. Ele fez um teste, sem sucesso, para se unir ao Quarteto Gospel Blackwood. O Rock and Roll nasceu quando Presley gravou canções “Rhythm and Blues” como um menino rural branco que soava como um cantor gospel negro.
Presley e o Movimento Carismático. O interesse de Presley pela música Gospel, sugere a possível influência desta última na produção de sua música rock. Hubert Spence pergunta com sensibilidade: “Ousamos declarar que o nascimento da música rock de hoje estava em colaboração com os movimentos Neo-Pentecostais carnais? Movimentos supostamente sob o poder do Espírito Santo tornaram-se envolvidos com a parte visceral do homem. Verdadeiramente, a carne e o “Espírito” foram unificados no pensamento do homem. Esta era uma união que Satanás tinha tentado efetivar, enganosamente, durante muitos séculos na igreja. Lemos sobre este desejo dialético na igreja de Corinto. Hoje, o Movimento Carismático veio do mesmo ventre visceral”. 12
A sugestão de que o Movimento Carismático, que tem seus tentáculos em praticamente todas as denominações, inclusive em algumas igrejas adventistas, veio do mesmo ventre visceral do movimento da música rock, merece séria consideração por duas razões. Primeira, a popularidade do rock “cristão” nas igrejas carismáticas aponta para uma origem comum. Segunda, o compromisso de ambos os movimentos em usar o estímulo da música alta, rítmica para induzir um “clímax espiritual” extático também sugere uma origem comum. No capítulo 2 observamos que a busca por um “clímax espiritual” extático foi facilitada pela mudança gradual na história cristã de uma visão predominantemente transcendente de “Deus além de nós” para uma concepção claramente imanente de “Deus conosco.” Esta última torna a experiência pessoal e emocional de Deus mais importante do que qualquer apreensão intelectual de Deus através de Sua Palavra revelada.
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Em seu livro At the Cross Roads: An Insider’s Look at the Past, Present and Future of Contemporary Cristian Music, Charlie Peacock, artista premiado e produtor de Música Cristã Contemporânea, reconhece que “A experiência carismática chegou a ser percebida como um encontro mais pessoal, tangível, e valioso com Deus do que o encontro que ocorre através da leitura e meditação das Escrituras inspiradas pelo Espírito. As conseqüências desta visão da vida no Espírito foram significativas”. 13
Durante o curso deste estudo teremos oportunidades de refletir na extensão destas conseqüências. Veremos que a tentativa dos carismáticos para experimentarem um encontro direto com Deus por meio da excitação artificial provida pelo ritmo do rock “cristão”, no final das contas, manipula o próprio Deus, tornando-O um objeto de auto-gratificação.
À luz dos fatos que acabamos de revelar sobre a origem da música rock nos anos sessenta, deixe-nos colocar novamente nossa intrigante questão: Pode a música rock, a qual tem suas raízes na batida do Vodu como meio de experimentar um contato direto com o mundo dos espíritos, ser adotada legitimamente e transformada em um meio adequado para adorar a Deus e proclamar o Evangelho? Ao respondermos a esta pergunta, é importante nos lembrarmos que o meio afeta a mensagem.

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